Oh, utopia insensata, que proclama a Europa una e indivisĂvel, erguendo estandartes de concĂłrdia sobre os escombros de sĂ©culos de dissonĂąncia! Os seus arautos, armados de tratados e jargĂ”es burocrĂĄticos, julgam que um punhado de regulamentos e reuniĂ”es em salas bem iluminadas bastarĂŁo para aplacar as rivalidades que incendiaram o continente desde tempos imemoriais. Como Ă© doce o sonho daqueles que ignoram a HistĂłria!
A Europa, esse velho mosaico de naçÔes, nĂŁo se fez em escritĂłrios, mas no campo de batalha, onde reinos se ergueram e ruĂram ao som de espadas e canhĂ”es. As suas fronteiras foram traçadas com sangue, os seus idiomas afiados no cadinho da guerra, as suas culturas moldadas pela desconfiança mĂștua. Que ironia Ă© pedir a esses povos que esqueçam os rancores que os forjaram!
O sonho de uma Europa una Ă©, no fundo, a ilusĂŁo daqueles que julgam que a HistĂłria pode ser reescrita com estatĂsticas e tratados comerciais. Mas a Europa real, a Europa das praças e dos becos, das tabernas e dos parlamentos acalorados, Ă© feita de naçÔes que, por mais que negociem, jamais esquecerĂŁo quem sĂŁo. E talvez seja melhor assim, pois Ă© da pluralidade e do atrito que nascem as grandes obras. Uma Europa sem rivalidades, sem discĂłrdias e sem paixĂ”es seria uma Europa sem alma, um teatro sem atores, um banquete sem vinho.
E a UcrĂąnia? A UcrĂąnia, cujo sofrimento recente deveria ser uma lição a todos aqueles que ainda acreditam em promessas fĂĄceis e alianças inquebrantĂĄveis. PoderĂĄ contar com a ajuda da UniĂŁo Europeia? Talvez, mas sempre com a desconfiança de que, na polĂtica internacional, as promessas raramente resistem ao teste do tempo. Pois, na arena das naçÔes, a solidariedade tem um preço, e o pragmatismo Ă©, muitas vezes, o verdadeiro regente dos destinos dos povos.
Deixemos, pois, a quimera descansar e aceitemos a Europa como ela Ă©: mĂșltipla, irascĂvel, grandiosa na sua cacofonia. Pois sĂł no tumulto da diversidade reside a verdadeira força deste velho e indomĂĄvel continente.
imagem gerada por IA
0 ComentĂĄrios
Muito obrigado pelo seu comentĂĄrio.