O meu direito à indignação

 

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Neste pequeno país à beira-mar plantado, onde frequentemente se exalta o culto da banalidade, em que a meritocracia foi deposta pelo “Culambismo” e onde os especialistas são substituídos pelos “Tudólogos”, o centralismo patético e bacoco encontrou o berço perfeito para se embalar e fazer embalar todo um país, anestesiado e amorfo.

Este país faz-me lembrar um velho decrépito, anafado, com uma barriga proeminente e o umbigo saliente e é esse mesmo umbigo o centro do seu corpo disforme, que de tão pesado se inclina invariavelmente para a frente, tantas são as vezes que o contempla.

Apesar de já poucas coisas me surpreenderem, não consegui deixar de ficar indignado com esta nova pérola, exemplo desse centralismo parolo exacerbado, que foi a justificação da decisão para manter o Tribunal Constitucional em Lisboa.

Os doutos e honoráveis juízes conselheiros consideram (à honrosa excepção de três dos treze que compõem o TC), lá do alto da sua incomensurável sapiência, que a transferência do TC teria "carga simbólica negativa", "degradando a perceção pública da autoridade, autonomia e relevância do órgão", chegando a assinalar que tal facto seria “um grave desprestigio” para a instituição.

Isto equivaleria a dizer, digo eu, que deveríamos desmantelar e mudar para Lisboa o castelo de Guimarães, berço da nação, uma vez que, estando onde está, desprestigia os nossos fundadores. A não ser que não sejam dignos de tal honra, afinal D. Afonso Henriques renegou e combateu a sua própria mãe. Será?

Aliás, melhor seria que se reescrevesse toda a história e se circunscrevesse o país à Capital, criando uma cidade estado, entregando o restante aos nossos vizinhos espanhóis, ou então, melhor ainda, teríamos um novo país, com a geografia restante.

Afinal, o resto do país parece não ser digno de receber uma instituição de um órgão de soberania. Talvez seja pela geografia acidentada, pelo clima agreste, pela falta de acesso aos meios de comunicação e às novas tecnologias, eu sei lá, até parece que nós só temos acesso ao mundo global quando vamos à capital.

Depois do célebre e inenarrável caso da transferência do Infarmed para o Porto, somos novamente brindados com mais esta preciosidade da linha de pensamento dominante nos corredores dos órgãos de soberania nacionais.

Esta “variante” de pensamento que é super resistente e altamente contagiosa, parece contudo ter um handicap, está praticamente circunscrita a esses corredores de poder. Falta-nos encontrar a vacina ou o antídoto certo para a erradicar.

Quando ousarem falar em coesão do território, tema tão querido aos políticos da Capital, nomeadamente quando visitam o território para além da Capital (sim, porque existe vida para além dela), lembrem-se destes ignóbeis atos e mantenham a boca fechada. É melhor assim, o povo agradece.

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