Gentil amigo meu que partes sem despedidas
Fugindo de uma abreviada amizade cerceada sem razĂŁo
Das memórias intensas e das recordaçÔes transcendidas
Daquele curto espaço de tempo em que o corpo era são
O desassossego em que me deixaste nestes dias
Em prantos de lågrimas exageradas de esperança perdida
Acontece sob o feitiço de magos aprendizes de almas sadias
A que sobrevivo sem fulgor nesta desesperança brandida
Sadia era a amizade, fortalecida por laços inquebrantåveis
Assim julgados pela carne, fraca, que amiĂșde nos trai
E nos desperta para a cadĂȘncia dos ponteiros instĂĄveis
Do relógio da vida, criador de ilusÔes, que nos distrai
Gentil amigo meu que partes e deixas este vazio imenso
ImpossĂvel de preencher com palavras incontidas
De angĂșstia e de dor que nĂŁo apagam o tempo
Transformadas em pensamentos ocultos e lĂĄgrimas vertidas
Ainda que não faltem, mas também não sobrem
Momentos efémeros de uma amizade contida
Relembro jĂĄ com saudade a rectidĂŁo do homem
Que em ti habitava e se afirmava na plenitude da vida
Tivesse eu o condão da atribuição do tempo e da vida
E jamais, jamais, um segundo em vĂŁo seria perdido
Em quezĂlias fĂșteis e comezinhas, sem qualquer razĂŁo
envolvida
E no entanto, assim, só, me deixas, incrédulo e aturdido
Rui Ferreira
Penafiel
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