O peso do insignificante

 DALL·E 2025-02-04 20.27.05 - A contemplative stil

 

As coisas banais existem Ă  margem,
invisĂ­veis como poeira pousada sobre um mĂłvel antigo.
SĂŁo as migalhas no chĂŁo da cozinha,
o som da ĂĄgua a escorrer na pia,
o estalar da madeira sob os pés descalços.

Nada nelas exige atenção.
Nada nelas se impÔe.
E, no entanto, preenchem o tempo
com a sua presença silenciosa.

O copo esquecido sobre a mesa
traz com ele a marca de um toque.
A luz que dança sobre a superfície de um talher
brilha para ninguém,
mas ainda assim brilha.

Tudo parece pequeno,
tudo parece descartĂĄvel
até que um dia falta.

Quando a rotina se desfaz,
quando a cadeira vazia nĂŁo range mais,
quando a caneta nĂŁo rebola pelo balcĂŁo,
percebemos o quanto precisamos
das coisas que nĂŁo importam.

A vida constrĂłi-se
na acumulação dessas migalhas.
E nelas, sem que soubéssemos,
estava o peso do mundo.

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