Numa tarde de outono, quando as folhas dançavam ao sabor do vento, encontrei um velho relĂłgio de bolso numa loja de antiguidades. O seu tiquetaque era suave, quase imperceptĂvel, como se segredasse confidĂȘncias do tempo. O vendedor, com olhos enrugados e sorriso afĂĄvel, disse-me: "Este relĂłgio guarda o instante eterno."
Intrigado, levei-o para casa. Ă noite, sentado Ă janela, observei o ponteiro dos segundos. Avançava implacĂĄvel, marcando cada momento que se esvaĂa. Mas havia ali algo diferente. Um segundo estendia-se, como um fio de prata que se desdobrava em infinitas possibilidades.
Pensei nas estaçÔes que se sucediam, nas pessoas que cruzavam o meu caminho, nos amores que floresciam e murchavam. Tudo era efĂ©mero, como a chuva que caĂa lĂĄ fora. A dor, a alegria, os sonhos â tudo tinha o seu tempo, como notas musicais numa partitura.
O relógio ensinou-me a apreciar cada instante. A sorrir para o desconhecido, a abraçar o efémero. Mostrou-me que a eternidade não estå no tempo que se prolonga, mas na intensidade com que vivemos. Naquele segundo, enquanto o ponteiro avançava, senti a eternidade num olhar, num gesto, num suspiro.
Hoje, o relógio repousa na estante da minha sala. O seu tiquetaque continua, mas agora sei que o instante eterno estå em cada batida do coração, em cada respiração. Nada é para sempre, exceto a memória daqueles momentos que vivemos intensamente. Por isso sorrio para o tempo, sabendo que ele é apenas um urdidor de histórias, e nós, os protagonistas da nossa própria eternidade.
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