Discutir com um tolo Ă© um ato de grande altruĂsmo. Poucos se dĂŁo conta, mas, ao contrariar as suas certezas inabalĂĄveis, estamos a prestar um serviço Ă humanidade. Afinal, sem o tolo, quem nos lembraria diariamente da fragilidade da razĂŁo? Quem, senĂŁo ele, nos forçaria a exercitar a paciĂȘncia, a humildade e o profundo desejo de bater a cabeça contra a parede?
O tolo nĂŁo precisa de argumentos, pois jĂĄ possui todos os necessĂĄrios: os dele. A cada tentativa de lĂłgica, ele responde com convicção, e quem somos nĂłs para desafiar a pureza de uma mente impenetrĂĄvel? Se dizemos que dois mais dois sĂŁo quatro, ele rebate com um vĂdeo de um desconhecido no submundo da internet, provando que, na verdade, sĂŁo cinco — ou trĂȘs, dependendo do ponto de vista "real".
Mas hĂĄ algo de viciante neste embate. Como marinheiros fascinados pelo canto das sereias, sabemos que a discussĂŁo Ă© inĂștil, mas seguimos em frente. Queremos acreditar que, desta vez, a luz da razĂŁo atravessarĂĄ o nevoeiro da ignorĂąncia. Mas o tolo Ă© imune Ă luz; a sua mente Ă© uma fortaleza inexpugnĂĄvel, onde a verdade Ă© um hĂłspede indesejado.
E, no fim, quando finalmente desistimos, ele sorri vitorioso, certo de que a sua sabedoria prevaleceu. NĂłs, exaustos, juramos nunca mais cair nessa armadilha — atĂ© o prĂłximo tolo aparecer, provocando-nos com o maior dos engodos: a certeza absoluta.
0 ComentĂĄrios
Muito obrigado pelo seu comentĂĄrio.