O Velho e o Vazio

 DALL·E 2025-01-21 15.53.24 - An old man sitting a

 

Sentado Ă  beira da estrada,
o velho observa o tempo
como quem jĂĄ nĂŁo lhe pertence.
A vida, agora, Ă© uma sucessĂŁo de dias iguais,
pĂĄlidos como a poeira que repousa na sua pele.

NĂŁo tem casa.
NĂŁo tem pressa.
O que tinha, perdeu.
Ou talvez tenha deixado para trĂĄs,
como se larga um peso inĂștil
que jĂĄ nĂŁo serve ao caminho.

Os olhos, turvos,
nĂŁo procuram o horizonte.
Nem passado, nem futuro,
sĂł o presente sem nome,
sem cor,
sem forma.

A vulgaridade da vida simples
veste-o como uma segunda pele.
O pĂŁo duro,
a ĂĄgua morna,
a cadeira velha de madeira rachada.
Nada disso pesa mais do que deveria.
Porque nada disso importa.

JĂĄ nĂŁo hĂĄ medo,
nem desejo,
nem saudade.
A vida, na sua essĂȘncia crua,
Ă© sĂł um fio que se desfia lentamente,
sem alarde,
sem propĂłsito.

O velho Ă© livre.
Livre da fome de ter,
da sede de ser,
das correntes invisĂ­veis que prendem os homens ao mundo.

A Ășnica riqueza que carrega
Ă© o silĂȘncio.
E nele,
tudo cabe.

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